quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Rambo: A Missão Final

Seria muito fácil terminar aquele dia sem receber uma ordem direta do Conselho. Diria Conselho pra não dizer Estado, pra não dizer as mais altas patentes militares. Quando esse tipo de coisa acontece, sabemos que o partido rival deu algum furo e chamou atenção demais com suas ações. Em períodos como este, é importante ser discreto.

Estas missões nunca eram complicadas de se realizar. É incrível como quando nos encarregam de algo desse valor eles já têm tudo pronto. Logo ao entardecer daquele dia, o carro que seria utilizado estaria estacionado próximo a um restaurante, nas proximidades do batalhão vizinho. Lá já estariam dois agentes que me dariam cobertura. Logo que o alvo saísse de sua casa de carro, o iremos abordar com permissão de abrir fogo.

Não havia passado das cinco da tarde. Era o tempo para eu me preparar psicologicamente para a missão. A cada dia que passa este tipo de ordem era dada para militares de patente semelhante a minha e já começava a virar rotina. Somos cargos de confiança. Confiança essa que retribuímos com serviços à nossa bandeira. Que retribuímos com nosso silêncio.

Mas por que temos que lutar e matar pessoas que lutam pela mesma bandeira que nós? Algo que me inquieta sempre é o fato de que, se lutamos por um bem maior, se lutamos pelo nosso país, por que fazemos tudo às escondidas? Existem momentos em que parece que a população vive num grau de alienação e aceitação tal que, independente das atitudes do Conselho, não faz a menor diferença. Por mais que as pessoas tenham consciência de algumas coisas, o medo faz com que hesitem em lutar.

Estava vestido com o colete, armas no coldre, roupas comuns, um comum frio na barriga e faltava apenas quarenta minutos para a missão se iniciar. Já era hora de tomar postos e esperar o momento. A rua nunca era muito barulhenta e nesse dia apresentava uma quietude ainda mais sobrenatural. A missão estava algum tempo adiantada e os dois agentes já me esperavam num carro conversível preto de emplacamento civil, como sempre.

Só não posso dizer que aqueles foram os piores minutos da minha vida porque já tinha passado por aquela situação outras vezes e sentia a mesma coisa. Mas algo me dizia que daquela vez não era só isso. Mas o mais importante era manter a calma, respirar fundo, empunhar o rifle e atirar. Atirar em um compatriota. Era uma questão de poucos segundos e terminava o serviço. Mas mesmo assim, a cada dia que passava recebíamos uma nova ordem para executar alguém da oposição e a cada dia ressurge a esperança de que esta será a última vez.

A porta da garagem foi aberta lentamente enquanto um carro vermelho se preparava para sair. Era chegada a hora. O nosso carro estava posicionado próximo à porta da garagem e o cano do rifle já estava preparado e carregado. Era só esperar o carro terminar de sair da garagem e disparar na lataria do alvo mesmo, já que a bala do rifle seria capaz de perfurar o metal. Tínhamos uma boa distância, e com o silenciador, não iríamos levantar suspeitas. Apenas mais um segundo e...

Por um momento acreditei que tudo tinha dado certo, a missão havia terminado e eu só precisava contar com o pé no acelerador do meu comparsa. O vidro ao lado da cabeça do alvo estava banhado de sangue, que deveria ter jorrado de seu pescoço ao ser atingido. O buraco aberto no outro carro estava estrategicamente posicionado onde a bala deveria ter se alojado no alvo, logo acima da clavícula. Assim que nosso veículo arrancou, percebi que o motorista do defunto olhava horrorizado pra trás, quando levantou um pequeno braço pelas mãos. Lá estava um menino, uma criança, que mal deveria ter seus cinco anos, inerte. Enquanto o motorista gritava e saía do carro com o garoto no colo e curiosos se aproximavam, conseguimos fugir. Olhei para o rifle em minha mão. Girei-o segurando pelo cano e aproximei o indicador da outra mão ao gatilho. O metal não estava muito frio. Senti gosto de ferro. Teria sido muito fácil terminar aquele dia sem receber aquela ordem direta do Conselho.

Rambo

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